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sábado, 22 de maio de 2010

Inesperados olhares apaixonantes... CAPÍTULO I



Numa das minhas viagens com nossa caravana acampamos numa cidade pequenina de grande aconchego da natureza em um descampado tranqüilo e bem arborizado.


Fui levar mulheres da nossa ciganada à cidade para que vendessem produtos como cobertores, panelas e caldeirões de ferro, umas para lerem as mãos das pessoas vendo o passado presente e futuro, assim ganhamos a vida e defendemos a natureza mãe.


Cidade em polvorosa, devido apresentações de motoqueiros acrobatas numa rampa, haveria no dia seguinte corrida pelas trilhas e dito caminho pelo locutor, passariam ao lado do nosso acampamento cigano.


O ronco das motos era ensurdecedor, achei tudo bonito, eles de macacões coloridos, capacetes muitas vezes com viseiras escuras ou espelhadas que nada se via dos olhos dos pilotos.
Aproveitamos a festa gratuita na cidade e elas foram trabalhando entre o povo e eu andando observando as coisas, barulhento, som altíssimo, gostoso de olhar.


Caminhando entre centenas de motoqueiros que conversavam, riam, uns bebiam, outros ajeitavam as motos, ajoelhados ferramentas nas mãos apertando aqui e acolá, eu observava atento a tudo. Eles também acampavam como nós ciganos, com menos conforto, mais era acampamento de pilotos.


Olhando para uma pista vi ter corrida e fui assistir na beira de uma cerca, corajosos, elegantes em suas astúcias audazes na pista empoeirada. Cada volta dada eu comecei perceber um piloto de macacão azul com moto de número 2 que ao passar olhava-me e com gesto de cabeça cumprimentava e ali estava somente eu na cerca.


Cada passada da moto de número 2 eu não sei exato o que houve, mas meu coração embalava descompassado e feliz por que o piloto passaria por mim. Passou reduzindo ergueu viseira do capacete, eu vi somente olhos negros e ouvi:


— O cara, vai perto do pódio, é minha última volta!


Concordei sinal de positivo, mas pensei...
“O que é pódio?”


Havia uma solução, não ficar ali e achar o tal de pódio eu nem imaginava o que seria aquilo, esperto perguntei um tanto arrastado pelo sotaque castelhano a uma mulher onde ficava o pódio, ela apontou a uma escadinha no alto com numeração de 2 1 3, conclui que ali receberiam medalhas troféus por que vi umas belas moças ajeitando sobre uma mesa.


De fato, não demorou e os pilotos começaram chegar estacionando-as, eu entre todas àquelas máquinas barulhentas, eles tiravam seus capacetes rindo da minha cara de susto. Eu estava no local do estacionamento das motos, lugar errado na hora errada. Veio um em boa velocidade, me viu parado como idiota entre eles, freou derrapando lateralmente deixando sua moto encostadinha em mim.


Estático pelo susto e gafe da minha parte, envergonhado eu fui sair pedindo desculpas com gesto de mão sem perceber ser o piloto da moto número 2, segurou-me pelo pulso mandando aguardar com sinal de mão. Desembarcou da moto sem nada falar, me conduziu até onde seria para eu ficar me deixando bem a frente do pódio. Tirou seu capacete cabelos molhados de suor, sorriu, apertou minha mão:


— Fica aqui, é mais seguro não acha? — Sorriu — Sou Rui e você?


Minha voz pela beleza do piloto quase nem saia:


— Sou Pablo, prazer!

— Pablo prazer, fala castelhano pelo sotaque. Depois quero falar com você, terá alguns minutos a mim?


— Sim tenho, mas...


Saiu rápido por chamarem-no no pódio, ele venceu em segundo lugar e o locutor eufórico nada compreendia, Rui tinha tudo para ter vencido em primeiro lugar e ficou em segundo, Rui nem se incomodou com troféu de segundo lugar e eu achei aquilo tudo normal, ele venceu também!


Depois de bom tempo de comemorações ganhei um banho de champanhe sem esperar e ele veio bebendo no bico da garrafa me oferecendo, bebi e saímos caminhando entre a multidão que o abraçava, aperto de mãos o parabenizando pela vitória. Levou-me até sua barraca e lá sentamos para ele se repor descansando na varanda de sua barraca.

Ele bastante desinibido me encarava direto com sorriso canto daquela boca carnuda e gostosa e percebeu meu rosto rubro pela timidez.


Sem medo perguntei:


— O que está havendo entre nós dois? Eu não sou o que talvez você imagine eu ser e mandou vir até o pódio.


Ele gargalhou:


— Ao pódio disse bem, não no estacionamento das motos, quase que bati justo em você, poderia ter se machucado gravemente, Pablo. Aceita cerveja? Você é de onde com este sotaque castelhano? Casado? Solteiro? O que faz por aqui nesta grande competição?


Tomando cerveja que ele serviu a latinha sentou me cobrindo de perguntas, gargalhei achando graça:


— Quer que te responda o que primeiro depois de cinco perguntas seguidas? — Rimos —


— Sou curioso, desculpa, vai fazer o que hoje à noite?


— Temos uma festa em nosso acampamento, quer ir?


— Então eu já sei que você está acampado aqui!


— Não Rui, meu acampamento fica um tanto longe daqui, não estamos acampados neste evento e sim nas matas mais distante daqui!


— Estranho isso Pablo, por quê?


— Meu povo é cigano e trabalhamos neste evento!


Estático Rui me olhando sério parecendo ver um bicho a sua frente, acuado por surpresa ou medo de lendas idiotas sobre ciganos, ele mudou completamente seu jeito de ser comigo e percebi:


— Pablo eu, bom, eu acho que deixo sua festa para outro momento, mesmo assim agradeço!


— Certo Rui, se mudar de idéia e desejar ir somente você a nossa festa, fica há dois quilômetros daquela trilha onde me viu na cerca, passar bem, grato pela cerveja e...


— Quer dizer que eu perdi o primeiro lugar por causa de um cigano?


Meu sangue ferveu:


— Hei cara, como assim você perdeu o primeiro lugar por causa de mim?


— Se eu não tivesse parado aqueles segundos para te pedir que viesse até pódio eu não teria vencido em segundo e sim em primeiro lugar, que porcaria fui fazer!


Entristeci deixando cair discreta lágrima, senti-me um lixo e não um homem que fora até então paquerado por um piloto de MotoCross homem e lindo, aconteceu naturalmente os olhares a cada volta dada de moto na pista...


Olhei-o:


— Sinto muito Rui em ser a causa do teu segundo lugar e desculpa eu ter sangue cigano, ao menos não me envergonho disso, pena que o mundo tem terríveis lendas contra nosso povo cigano, passar bem Rui!


— Pablo eu...


Saí sem olhar para trás, uni o rebanho e nós retornamos ao nosso acampamento.


Eu não devia explicação a ninguém e apenas me fechei na mágoa e tristeza, lembranças dos olhares de Rui me atormentavam e eu não compreendia, sentia-me apaixonado pelo piloto Rui, isso era mal, muito mal a mim como homem e cigano, temos tradições...


Eu não imaginava que havia provocado as mesmas sensações no piloto Rui, com meus dons o via tomando banho e chorando, seria por mim ou por deixar de vencer em primeiro lugar para pedir que eu fosse até o pódio? Meu dom não ia tão além, apenas sentia ele também estar sofrendo por deixar de vencer primeiro lugar ou se por mim, afinal, era certo nossa atração...

Cigano Pablo Horths ..........................................Em breve Capíto II

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